Fogo no Cerrado: um desafio para a conservação (parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação

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Fogo no Cerrado: um desafio para a conservação (parte 1)

ANDRÉ LUÍS S. ZECCHIN

Biólogo e coordenador da RPPN Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO)

A relação do Cerrado com o fogo é antiga, seja de forma natural ou quando é causado pelo homem. As evidências de incêndios no bioma indicam que eles ocorrem há mais de 32 mil anos. Além disso, historicamente, o fogo é usado em diferentes atividades do dia a dia – prática que permanece, principalmente para o manejo de áreas agrícolas e de pastagem.

A evolução do Cerrado fez com que a região fosse composta por um conjunto diverso de características e particularidades da vegetação e espécies de plantas que são tolerantes ou dependentes do fogo. Algumas, inclusive, só conseguem se reproduzir quando expostas às altas temperaturas das chamas, como a erva conhecida como cabelo-de-índio (Bulbostylis paradoxa). Todavia, o mesmo fogo que traz vida é o que destrói esses ambientes naturais, especialmente na época da seca, período entre maio e outubro, quando ele tende a ser mais intenso e de maiores proporções, saindo muitas vezes de controle e se transformando em incêndios.

Esse contexto demonstra a relação dualística do Cerrado com o fogo, o que exige do poder público e da sociedade civil organizada a criação de estratégias para que ele seja usado corretamente no bioma. Fogo demais, como se sabe, gera problemas. Já a ausência prolongada pode gerar grande acúmulo de material combustível (biomassa de capim seco), que cria condições favoráveis para incêndios de proporções devastadoras e exige outras formas de manejo.

Por esse motivo, uma solução inovadora tem sido implementada em diversas Unidades de Conservação (UCs) da savana brasileira. É o chamado Manejo Integrado do Fogo (MIF), que vem demonstrando ser uma ferramenta eficaz para a redução de incêndios na região e a consequente proteção da biodiversidade local. O MIF é uma abordagem de manejo conservacionista do fogo que busca integrar diferentes ações de prevenção a incêndios, que vão desde o desenvolvimento de pesquisas científicas, cujos resultados trazem subsídios para ações práticas, até a implantação de aceiros negros e queimas prescritas, usados para reduzir o material combustível existente em uma determinada localidade e, dessa maneira, impedir o avanço de incêndios.