FATOS E DETALHES - Rede Gazeta de Comunicação

PUBLICIDADE

FATOS E DETALHES

ENCONTROS E DESENCONTROS

Em tempos de polarização e paixões políticas exacerbadas, um pouco de história é bom para acalmar os emocionados. Em Montes Claros, por exemplo, muitas flutuações já aconteceram ao longo dos anos. Por exemplo, no já distante 2004, duas décadas atrás, após não conseguirem ser o candidato a prefeito indicado pelo então chefe do Executivo Jairo Ataíde (PFL), Humberto Souto e Athos Avelino (Partido Popular Socialista, ex-Partido Comunista Brasileiro) se uniram ao PT na campanha que elegeu Athos prefeito. Humberto foi, ao lado de Lula, que cumpria seu primeiro mandato na Presidência, um dos protagonistas da campanha de TV que levou o então deputado federal à Prefeitura. 

ENCONTROS E DESENCONTROS II

Naquele ano, Humberto se aposentou do Tribunal de Contas da União e sonhava em ser candidato a prefeito pelo PFL, até então seu único partido na já extensa carreira política, embora a legenda tenha tido outros nomes antes: ARENA e PDS. Como Jairo não o apoiou – o então prefeito, a pedido do governador de antanho, Aécio Neves (PSDB), compôs com Gil Pereira -, cerrou fileiras com Athos (PPS), que também desejava ser o candidato do então prefeito.

ENCONTROS E DESENCONTROS III

A participação de Humberto na campanha de Athos foi tão intensa que o ex-ministro do TCU, logo após as eleições de 2004, migrou para o ex-Partido Comunista Brasileiro, rebatizado de PPS, mas ainda assim Popular e Socialista, por onde foi eleito deputado federal novamente em 2006. O PPS, anos mais tarde, se voltou para a centro-direita, foi rebatizado de Cidadania e é o partido onde Humberto se encontra até hoje. Ou seja, em determinada quadra da história, Humberto Souto, maior apoiado de Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais em Montes Claros, foi aliado de petistas e comunistas e foi eleito deputado e prefeito por um partido que se denominava popular e socialista, já que a mudança para Cidadania ocorreu somente em 2019.

ENCONTROS E DESENCONTROS IV

Em 2004, a participação de Humberto na TV centrava críticas na administração de Jairo, que fora seu afilhado político, lançado como seu candidato a prefeito nas eleições de 1988. Humberto apoiou Jairo em 88, 92 e 96. Sua irmã, Iara Souto, inclusive, foi secretária municipal de Cultura de Jairo durante todos os oito anos de gestão. Athos Avelino, que fez forte campanha para Bolsonaro em 2022, foi candidato duas vezes a prefeito com vices do PT: em 2000 era Petronilho Narciso e em 2004, quando foi eleito, Sued Botelho. Em 1996 e 2000, o grande apoiador da campanha de Athos foi Tadeu Leite (PMDB), de quem fora vice-prefeito. Depois, Athos e Tadeu tornaram-se ferrenhos adversários e disputaram o segundo turno das eleições para prefeito duas vezes um contra o outro: em 2004, com Athos levando a melhor, e em 2008, com Tadeu vencendo.

ENCONTROS E DESENCONTROS IV

Talvez a maior rivalidade da história política recente de Montes Claros tenha sido entre Tadeu Leite (PMDB) e Jairo Ataíde (PFL). Com trocas de denúncias e ataques abaixo da linha de cintura, os dois protagonizaram embates históricos em 1988 (aqui o candidato foi Mário Ribeiro, mas a grande referência peemedebista era Tadeu), 1992 e 1996 (de novo Tadeu não era candidato, mas a polarização era com ele), contudo encerraram a carreira política como aliados. Quando Tadeu foi prefeito pela última vez, entre 2009 e 2012, Jairo, que o apoiou no segundo turno de 2008, fez parte do seu governo, com indicações de secretários, todos os quatro anos.

ENCONTROS E DESENCONTROS V

Não preciso nem citar que nacionalmente Jair Bolsonaro já foi eleitor de Lula para presidente e, não satisfeito, também de Dilma Rousseff, e que Geraldo Alckmin (PSDB), tantas vezes candidato a presidente contra o PT, hoje é vice-presidente do quinto governo petista. A política é dinâmica, por isso, os recém-iniciados nessa seara não devem ficar assustados com as composições que ano a ano são feitas visando ou governabilidades ou vitórias eleitorais. Não existe, nesse mundo, aliança ou desavença que dure para sempre.

Pecê Almeida Júnior é jornalista e publicitário e fechou esta coluna às 13h05 de 21 de abril de 2024