Especialista em educação avalia o impacto do fechamento das escolas - Rede Gazeta de Comunicação
Especialista em educação avalia o impacto do fechamento das escolas

GIRLENO ALENCAR

A professora e especialista em educação Sande Almeida avalia que o fechamento das escolas, devido ao controle da pandemia da Covid-19, agravou o tripé ‘leitura, escrita e comunicação’, tão importante para o desenvolvimento do aluno. Mas nada está totalmente perdido, segundo ela, que inclusive apresenta alternativas.

Sande afirma que os impactos da pandemia da Covid-19 serão sentidos por mais alguns anos em diversos setores da sociedade, mesmo após a vacinação da população e o maior controle do vírus. Em se tratando do ensino e as novas oportunidades para as futuras gerações, essa preocupação cresce a cada dia.

“Desde que a pandemia começou e que a escola teve sua primeira semana de fechamento eu já fiz uma análise de alguns impactos negativos na vida dos alunos. Estamos falando de uma das maiores instituições de acesso de crianças e jovens ao mundo das oportunidades. A pandemia, sem dúvidas, se consagra como uma das situações de maior impacto mundial em todos os sentidos. Foram necessárias medidas emergenciais, como por exemplo, o fechamento das escolas. Os impactos oriundos desse fechamento incluem evasão escolar, déficit de aprendizagem, aumento da depressão e ansiedade em crianças, jovens e profissionais da educação”, destaca.

A professora destaca ainda que o desafio dos educadores, e do sistema de ensino como um todo, será o de resgatar nos projetos pedagógicos um tripé básico, e que já vinha sendo deixado de lado há muito tempo: leitura, escrita e comunicação. “O fomento à leitura na escola é um problema que me incomoda há um bom tempo. Os livros se tornaram raridades nos projetos políticos-pedagógicos, muitas vezes engessados, com propostas que nem sempre atendem às demandas das comunidades locais, mas precisam ser cumpridos”.

Se a realidade já se apresentava desafiadora, especialmente no ensino público, a pandemia escancarou desigualdades e problemas estruturais que dificultaram ainda mais a vida do aluno e do professor, que precisou tentar manter-se conectado com suas turmas mesmo à distância e com recursos escassos. “No ensino presencial, com todas as dificuldades que enfrentamos, temos a nosso favor a interação e a troca, além da possibilidade de ocuparmos diversos espaços, o que contribui com os processos de aprendizagem, de criação, leitura e escrita. Já sentimos os impactos negativos nesse sentido já que a internet se tornou quase a única ferramenta disponível e muitas vezes, os alunos possuem acesso restrito. Em outros casos, os alunos acabam se envolvendo com outras dinâmicas dentro das redes, como games e redes sociais. A leitura acaba ficando para um segundo plano”, afirma Sande Almeida.

Essa distância da escola infelizmente afastou também a motivação para a aprendizagem, em muitos casos substituída por outras necessidades da família, como a do trabalho para o sustento da casa. Mas sempre é possível tirar lições e buscar uma nova transformação em meio a tantos desafios. A especialista oferece uma dica simples, porém, extremamente eficaz se aplicada com organização pelo docente. “Nós, professores, temos um grande desafio no fomento à leitura em tempos de revolução digital. Minha dica é fazer o caminho inverso daquilo que estamos acostumados. Então, apresente algumas pílulas contextualizadas, que limite com a vivência dos alunos, que já lhes sejam familiares, até chegar na leitura propriamente dita”, ressalta.

Como exemplo, a especialista em Educação sugere que o professor comece por um compartilhamento de histórias, reconhecendo os territórios destes meninos e meninas e apresentando leituras em que eles se envolverão facilmente com os relatos e personagens. “Podemos começar inserindo os personagens e partes da narrativa em nossas aulas; sugerir uma pesquisa de determinada época e espaço em que se passa a história e unir a ficção com a realidade. Isso instiga. Aflora a curiosidade. Depois é só sugerir a leitura e claro, se possível, enviar o livro digital já que muitos podem não ter acesso ao livro físico”, completa.

Outro ponto importante, de acordo com Sande Almeida, é ser referência. O aluno precisa enxergar que o professor é um amante da literatura. “A médio e longo prazo, se em cada etapa ou bimestre o professor incentivar a leitura de forma leve e criativa, teremos bons resultados”. Além da estrutura e projetos pedagógicos, ter uma maior participação dos jovens alunos, independente da disciplina ministrada, passa também pelas novas estratégias de ensino adotadas por cada profissional. Ousar é a palavra de destaque deste novo processo.

“Se estamos diante de situações diversas temos que investir na diversidade pedagógica também. Eu gosto muito dos desafios, games e bate-papos rápidos, quase que despretensiosos, mas que tornam as aulas tão leves que eles aprendem brincando e ainda ficam aguardando as novas atividades. Geralmente, ao final de cada aula ou semana, eu lanço um desafio de leitura ou pesquisa que envolva mais de um tipo de texto. O mais estratégico é sempre incluir alternativa cuja linguagem seja exatamente a que eles conhecem bem”, esclarece.

Para a docente, essa competição saudável, através dos desafios nas disciplinas, também é uma opção e os alunos acabam se envolvendo com o mundo textual e com os colegas, esquecendo um pouco da ausência que a escola provoca. “A leitura, os livros, o mundo imaginário poderá ser nossa grande aliada agora e depois que tudo voltar ao normal”, finaliza.

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