Entre Acrônimos e Elucubrações (Parte 1) - Rede Gazeta de Comunicação

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Entre Acrônimos e Elucubrações (Parte 1)

GUSTAVO MIOTTI

Empresário e Cientista Econômico, pesquisa atitudes relativas à globalização em seu doutorado no Rollins College

Desenvolvi uma teoria que finalmente elucida a principal razão dos Estados Unidos serem o país mais rico do mundo. Sem falsa modéstia, minha revolucionária tese foge das tradicionais explicações como educação, colonização, religião ou patriotismo, mas tem origem na persistente prática desta sociedade de cometer um dos sete pecados capitais: a preguiça. Logo ao chegar nos EUA, se vê fortes evidências da minha elucubração resultante de anos de ampla reflexão e análise da cultura local. Os aeroportos possuem longas esteiras, inúmeros carrinhos elétricos, trenzinhos ligando os terminais… tudo para evitar ao máximo qualquer esforço físico.

A busca pelo empenho mínimo se espalhou e transformou o cotidiano da sociedade americana. Facilmente se identifica um dos principais instrumentos que levam ao pecado: o automóvel. Os Estados Unidos são uma nação feita para automóveis e tem mais automóveis per capita que qualquer outro país. São o símbolo máximo de independência e liberdade individual, algo tão caro a este povo. Graças aos drive-thrus, os americanos fazem de quase tudo sem precisar sair deles. O conceito de drive-thru surgiu há exatamente um século, em Dallas, no Texas, onde uma lanchonete começou a servir hambúrguer e fritas; a ideia deu tão certo que logo se espalhou pelo país.

Hoje, o conceito se ampliou para inúmeros outros usos, como bancos, lavanderias, floriculturas, farmácias, bibliotecas e bancos de alimentos. Em alguns estados como Califórnia e Havaí pode-se até votar passando por um drive-thru. Na cidade do pecado, Las Vegas, até se casar em um deles é possível e no Texas é permitido comprar armas e munições sem sair do seu carro.

Alguns ganham em sofisticação e vão além de apenas entregar. O drive-thru do meu banco parece ter saído de uma das cenas do desenho dos Jetsons: eu me conecto ao meu gerente do banco por uma caixa de som e um tubo pneumático é usado para enviar ou receber documentos sem sair do carro. Todas essas infraestruturas vieram a calhar em tempos de pandemia e o uso de drive-thrus se expandiu para a testagem e vacinação contra a COVID-19, como em outros países.

Entretanto, a mais concreta evidência da minha tese sobre a preguiça vem do campo da comunicação. Este país tem uma quantidade abrupta de abreviações, acrônimos (abreviações que podem ser pronunciadas como palavras) e atalhos que fazem necessário aprender uma linguagem toda particular para se desvendar essas abreviações.