Wanderson de Carvalho
Médico Anestesiologista
As mulheres são duas vezes mais propensas a ter depressão do que os homens. Das mulheres gestantes 20% apresentam depressão no pós-parto (DPP). E quando estas gestantes realizam cesariana estes índices sobem para 30%, alertam pesquisadores. Eles descobriram também que produtos químicos desreguladores endócrinos como bisfenóis, ftalatos e parabenos, podem influenciar mudanças hormonais durante a gravidez, bem como contribuir para a depressão pós-parto.
O que se sabe, é que a depressão pós-parto tem efeitos adversos não apenas na mãe, mas também nos filhos e cônjuges. A DPP leva a uma desconexão social e emocional dentro das famílias; e uma em cada 8 mulheres com depressão após o parto lutará com a doença na marca de 2 anos se nada for feito.
Os cientistas descobriram que o cérebro tem vários locais de sinalização de hormônios sexuais e não sexuais, e que estes hormônios têm o poder de proteger o cérebro contra as agressões do estresse na gestante. E quando as mulheres entram no puerpério, com queda abrupta destes hormônios, uma situação de risco para ansiedade e depressão surgem de forma mais intensa, deixando as mulheres vulneráveis para os transtornos do humor, principalmente as que têm predisposições genéticas, epigenéticas, ambientais, sociais, traumáticas, entre outras. Com 29% de todos os nascimentos, até 2030, previstos para serem cesáreas, um tratamento que solucione os sofrimentos das gestantes com depressão pós-parto é extremamente necessário.
As condutas tradicionais para tratar uma depressão pós-parto são desafiadoras e com respostas pouco efetivas, colocando a vida do bebê e da mãe em perigo. Estudos recentes vêm trazendo evidências que anestésicos como a cetamina, com mais de 50 anos de existência e com a liberação para ser usado, em gestantes e crianças, estão promovendo o tratamento da depressão pós-parto, de forma rápida e robusta, com uma única dose de aplicação. Outras doses podem ser usadas se forem necessárias, isto porque a cetamina age em áreas do cérebro que outros fármacos tradicionais não agem, permitindo, assim, uma resposta medicamentosa que os outros medicamentos não possuem.
A cetamina é o primeiro exemplar de um antidepressivo de ação rápida com eficácia para sintomas resistentes ao tratamento de transtornos de humor. Sua descoberta surgiu de uma reconceitualização da biologia da depressão. Insights neurobiológicos sobre a eficácia da cetamina lançam nova luz sobre os mecanismos subjacentes à eficácia antidepressiva. Uma única dose deste anestésico é capaz de tirar uma gestante dos pensamentos suicidas, é o que revelam os pesquisadores. Ou seja, um tempo necessário para as puérperas se recomporem da queda abrupta hormonal.
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