JOYCE ALMEIDA
As pessoas vêm se enraizando cada vez mais nas redes sociais. Além das interações com familiares, amigos e fãs – no caso das personalidades e influenciadores digitais, outra posição tem crescido freneticamente dentro das mídias, o de juiz da internet.
Nos últimos anos, a cultura do cancelamento passou a ser uma prática muito comum no ambiente virtual. Ela consiste na reprovação e repressão sobre determinado comportamento, posicionamento e ação de uma pessoa, normalmente julgada por um grande número de pessoas. Diante dessa situação, a rede social se torna como um tribunal, onde esse indivíduo recebe as opiniões e considerações sobre algo feito por ele, demonstrada na maioria das vezes com comentários opressivos.
Muitos casos de grande repercussão resultam em ações criminosas por parte desses “juízes” que plantam discursos de ódio e até mesmo ameaças. Segundo a Agência Câmara de Notícias, foi elaborado o Projeto de Lei 1873/23 para ser incluído no Código Penal para os casos de cancelamento virtual e o linchamento virtual, com pena de detenção prevista de seis meses a dois anos e multa.
Conforme o texto que está em tramitação Câmara dos Deputados, o projeto define o cancelamento virtual como a ação que viola a honra ou imagem de uma pessoa através das redes sociais ou de qualquer outra interação virtual. Em casos onde o perfil agressor for falso, com o intuito de camuflar a verdadeira identidade, a penalidade será de nove meses a três anos de detenção.
O assistente contábil, Fabrício Gabriel Souza usa as redes sociais habitualmente e vê a cultura do cancelamento como uma ação negativa. “Para mim, esse comportamento é usado por essa geração como uma forma de se mostrar contrária às pessoas que tem ideias diferentes das suas, de maneira desumana. Acredito que isso vem acontecendo devido à internet estar se tornando uma ‘terra sem lei’, de maneira em que os usuários fazem justiça com suas próprias mãos”.
Fabrício conta ainda que conhece pessoas que por medo desse “cancelamento”, vivem aprisionado ao algoritmo virtual. “Não conheço ninguém que passa por isso, mas já estive em convívio com pessoas que vivem refém das redes sociais, que tem medo de serem canceladas em suas próprias bolhas”, afirma.
Na sua opinião, o assistente destaca que essa ação pode resultar em várias consequências ruins nas relações interpessoais. “Surgem então sentimentos de perfeccionismos excessivos, a auto comparação, além de viver e pensar de maneira irreal ao que existe. A internet busca criar um ambiente totalmente feliz e alegre, sendo que quase ninguém posta em sua bolha social coisas tristes ou desanimadoras, mas sempre transmitindo um ambiente onde tudo e todos são felizes e perfeitos, afetando diferente a saúde mental dos usuários”, conclui.
Já a influenciadora digital Luana Soares acredita que em determinadas situações é necessária a punição. “Minha opinião sobre a cultura do cancelamento é que as vezes, é realmente necessário cancelar uma pessoa como punição. Claro que depende do que se trata o assunto e se a pessoa realmente merece isso, pois as pessoas estão perdendo a noção para ganhar fama acima de tudo e acabam fazendo coisas sem pensar. Falam qualquer coisa para ganhar seguidores, e isso acaba gerando o ‘cancelamento’”, explica.
Luana conta que embora use muitos as redes sociais, até o momento, nunca sofreu esse tipo de ação. “Sempre tenho muito cuidado com as minhas postagens, mas sempre vai ter uma pessoa que não gosta de nós ou do nosso conteúdo e nos julgam no direct”, reitera e pontua: “na minha visão, os impactos do ‘cancelamento’ podem levar as pessoas a se isolarem no mundo virtual e se tornarem antissociais, depressivas e com a saúde afetada por vários distúrbios psicológicos”. (Sob supervisão de Stênio Aguiar)
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