Mesmo quem não sabe quem é Sérgio Fabiano Ferreira, o bocaiuvense com nome artístico de Gu Ferreira, se depara com seu legado artístico espalhado pelos quatro cantos de Montes Claros. Ele é o responsável por produzir dezenas de obras de arte espalhadas nas ruas, praças, parques e canteiros da cidade – desde formigas, siriemas, louva-a-deus, tamanduá, libélula, tilápia, cavalos, borboletas etc., até bustos de personalidades, feitos de materiais recicláveis.
Gu Ferreira foi contratado pelo prefeito Humberto Souto para desenvolver programas educativos que envolvam a arte, o meio ambiente e as relações humanas, a pedido do saudoso Paulo Ribeiro, então secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Montes Claros. Paulinho sonhava com um meio ambiente ecologicamente equilibrado, que convivesse harmonicamente com obras de artes espalhadas nos logradouros públicos.
“Nossa ideia é propor a democratização da arte nas ruas e praças de Montes Claros, para levar para a população, especialmente a de classe média baixa, uma mensagem de amor e de preservação ambiental, através da arte. É por isso que estamos contratando artistas para transformar Montes Claros, de fato, numa cidade da arte e da cultura”, declarou Paulinho à época.
“Oh, Montes Claros, minha terra, onde canta o sabiá, lindas pracinhas e coretos, belos lugares pra amar”; “É muito fácil, todo passarinho voa, toda mata eu sei que é boa, quando não tem alçapão”. Esses trechos das músicas “Montes Bares Claros”, de Wanderdaik e Tico Lopes; e “De Trem Pra Montes Claros”, de Tino Gomes e Charles Boa Vista, são inspirações para o artista Gu Ferreira fazer suas esculturas.
Também compõe seu repertório de inspirações a emblemática “Montesclareou”, música símbolo da cidade, composta por Georgino Jr. e Tino Gomes: “Montes Claros, montesclareou, meus olhos cegos de poeira e dor, tudo é previsto pelos livros santos, que só não falam que o sonho acabou…A marujada vem subindo a rua, suores brilham nos rostos molhados, agosto chega com a ventania, cálice bento e abençoado, a dor do povo de São Benedito, no mastro existe para ser louvado. Louvado seja o Santo Rosário, louvado seja poeira e dor, louvado seja o sonho infinito e Mestre Zanza que é cantador”.
Quem é Gu Ferreira?
Formado em Artes Visuais na Universidade Estadual de Montes Claros, Gu Ferreira, bocaiuvense de nascimento e montes-clarense por opção, dedicou-se ao ensino público de educação básica, com 13 anos de efetivo exercício das disciplinas de Artes e Educação Inclusiva. Como educador social participou de coletivos de tecnologias sociais na condição de oficineiro nos Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PET), Programa Fica Vivo e como bolsista da Funarte no Projeto de Cartografia Social da Margem do Rio São Francisco.
Atuou como representante da sociedade civil organizada como presidente do Conselho Deliberativo Municipal de Patrimônio Histórico e Artístico de Bocaiúva. Presidiu na cidade de Montes Claros o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (2018-2020), que resultou em importantes ações, destacando-se a criação do Fundo Municipal para a Promoção de Igualdade Racial e a criação da Galeria Afrodescendente do Arraial das Formigas, com bustos de figuras negras representativas na história local, afixados em privilegiado espaço público em frente à Lagoa do Interlagos.
Como artista plástico se dedica a projetos e exposições desde 2000, com ênfase em pinturas e desenhos – esferográficas, lápis, nanquim, papel, pintura acrílica, pintura aquarela, pintura a óleo e esculturas. Seu trabalho se destaca no cenário mineiro, nacional e internacional.
Histórico de exposições
Destaques para a Exposição na Galeria Márcia Prates, 2016; Exposição Esferográficas sobre úteros e movimentos, 2016; Exposição na Hípica, Campinas (SP), 2019; Escultura Hugo Werneck em 2021, instalada no Parque da Serra do Curral em Belo Horizonte (MG); Escultura “Bikes do Cerrado” em 2021, inaugurada em Salinas (MG); Escultura instalada no Parque Municipal em Belo Horizonte, em 2023.
Dezenas de esculturas foram expostas através dos programas “Para além das prisões” e “Jardins para Borboletas”, desenvolvidos desde 2018, em Montes Claros, sob a supervisão do poder público nos âmbitos municipal e estadual. Com o “Jardins para Borboletas” foram finalizados 15 esculturas de Borboletas para homenagear mulheres que contribuem ou contribuíram ativamente para o desenvolvimento da sociedade, projeto que concorreu ao prêmio de 2019 do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público). Esses projetos têm como objetivo apoiar um número específico de ressocialização dos reeducandos do sistema prisional e moradores de rua, através da arte, para reinseri-los no mercado de trabalho.
Entre as inúmeras esculturas de Gu Ferreira espalhadas pela cidade destaca-se o Formigão encravado no trevo de saída para Pirapora, medindo 13 metros de comprimento por 4 de altura, que faz lembrar o trecho de outra música do nosso repertório musical, na voz do Grupo Banzé: “Montes Claros, Montes Claros, terra de grande beleza. Começou no Arraial de Formigas, transformou-se numa linda princesa”.
Pelas esculturas e trabalhos manuais os reeducandos apresentaram atividades para se qualificarem, trabalhando com materiais recicláveis e reutilizáveis – ferragem e madeira – para a confecção de peças artísticas e utilitárias em formatos de elementos da natureza, placas informativas, bustos de personalidade regionais, entre outros. Essas peças compõem na cidade de Montes Claros os espaços urbanos públicos, como praças, jardins, trevos e parques, dando a linguagem estética e visual da arte e seu impacto paisagístico à cidade. (LUÍS CARLOS GUSMÃO)
