Cientistas e fiscais agropecuários se unem a organizações de proteção animal para pedir ao governo que impeça o abate de vacas gestantes - Rede Gazeta de Comunicação

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Cientistas e fiscais agropecuários se unem a organizações de proteção animal para pedir ao governo que impeça o abate de vacas gestantes

DÉBORA ROLANDO

Fiscais estaduais agropecuários do Rio Grande Sul, pesquisadores especialistas em bem-estar animal e as organizações Animal Equality, Alianima, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Mercy For Animals e Sinergia Animal entregaram hoje para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) uma carta aberta pedindo o fim do transporte e abate de vacas gestantes.

O transporte é considerado um grande desafio do bem-estar animal, por ser uma etapa extremamente estressante na vida dos animais destinados ao consumo humano, sendo ainda mais prejudicial para as fêmeas gestantes. O peso do útero e do feto de uma vaca prenhe pode chegar a 75 quilos e a um volume de 60 litros. Nos últimos três meses de gestação, são ainda maiores os riscos de aborto ou parto prematuro, estresse por calor, desidratação, lesões e doenças metabólicas durante e após o transporte. Por isso, transportar vacas no final da gestação pode ser considerado maus-tratos, um crime com previsão de pena de prisão e multa, pelo artigo 32 da Lei Federal 9.605 de 1998.

A quantidade de vacas gestantes abatidas no terço final aumentou significativamente desde de 2017, quando foi alterado o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), permitindo o uso de carne de vacas prenhes para consumo. Dados registrados pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, por exemplo, apontam que, no semestre anterior à implementação do RIISPOA, 381 vacas no terço final da gestação foram abatidas em abatedouros municipais e estaduais desse estado. Enquanto no segundo semestre de 2020, esse número foi 1.270% maior.

“A morte do bezerro (feto) dentro do ventre materno também pode estar relacionada a problemas de bem-estar animal, pois no processo de abate apenas a vaca é insensibilizada, assim, o bezerro deixa de receber oxigenação e morre sem passar previamente por um processo que garanta que esse animal não sinta dor ou desconforto durante sua morte”, explica o professor Mateus Paranhos, signatário da carta e um dos maiores especialistas em bem-estar animal no Brasil, do Departamento de Zootecnia, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (Unesp de Jaboticabal).

Vídeo gravado pela equipe de investigação secreta da Animal Equality mostra cenas chocantes de fetos de bezerros mortos, jogados pelo chão. A organização flagrou também uma vaca gestante sendo sangrada enquanto o feto se debatia dentro dela tentando sobreviver.