Cego forma em direito usando scanner de voz - Rede Gazeta de Comunicação

PUBLICIDADE

Cego forma em direito usando scanner de voz

Na segunda-feira passada, Claudioniro Ferreira da Cruz, de 52 anos, se formou em Direito na Universidade Estadual de Montes Claros, quando viveu uma emoção: ele é cego e somente conseguiu realizar esse sonho porque em 2014, o Núcleo da Sociedade Inclusive recebeu um scanner de voz doado pelo então Lions Clube Montes Claros Novo Horizonte e viabilizado pela empresa Orthomontes. Claudiomiro participou do ato e depois que entrou na universidade, passou a usar o aparelho para converter em voz os textos escritos. Naquele ano, o Lions e a Santa Casa Olhos montou uma casa na praça Doutor Carlos, para chamar a atenção da população para as dificuldades de um cego. Na cidade de Montes Claros existem apenas dois scanners de voz, sendo o outro na Secretaria Municipal de Educação.

Nascido no município de Grão Mogol, Claudioniro convive com a completa deficiência visual desde o nascimento, o que não lhe impediu de assumir desafios e se realizar como bacharel em Direito. “Não vou negar que tive muita dificuldade, mas as vontades foram maiores, os sonhos e as pessoas de bem no meu caminho. Estou bem à vontade para dizer que estou feliz demais, por mim e por todos de minha família”.  A Unimontes realizou a formatura pelo sistema remoto, mas fez questão de convidar Claudioniro para acompanhar a solenidade no gabinete da reitoria.

Claudioniro foi um dos graduados pela Universidade Estadual de Montes Claros, na noite dessa segunda-feira (21/12), quando foram realizadas duas solenidades relativas ao primeiro semestre letivo de 2020 para os cursos do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas (CCET), às 18h30, e para o Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), às 20h. Foram graduados 141 novos profissionais de 12 cursos do campus-sede e do campus de Janaúba: Agronomia, Engenharia Civil, Engenharia de Sistemas, Matemática, Sistemas de Informação e Zootecnia (CCET) e Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Direito e Serviço Social (CCSA).

Como mora sozinho, Claudioniro fez uma solicitação para que, excepcionalmente, pudesse participar da solenidade na sede do Nusi, mas foi convidado para que estivesse presente no gabinete do reitor, o que o fez sentir como representante de todos os demais graduandos. Orgulho extra que se somou à emoção de ser o primeiro dos seis filhos a concluir um curso superior. Fez um breve resgate da infância simples na pequena cidade de Grão Mogol, no Norte de Minas, e dedicou o “canudo” aos seus pais. O novo diplomado prefere falar que não há mais desafios e, sim, outras vontades para se realizar profissionalmente.

O próximo passo é alcançar a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil e trabalhar na área criminal. Mais adiante, pensa em fazer um concurso público para o Ministério Público. De memória invejável, Claudioniro fez um agradecimento especial aos próprios colegas de sala, que “foram companheiros do início ao fim” em ajuda-lo na leitura dos conteúdos, nos trabalhos conjuntos e todas as outras obrigações ao longo do curso de Direito. Reforçou, também, a gratidão à equipe do Núcleo de Sociedade Inclusiva (Nusi), projeto de ensino da Unimontes de suporte e apoio aos alunos portadores de alguma deficiência branda ou severa.

No caso dele, o suporte veio na leitura dos conteúdos e na conversão de disciplinas em áudio, dentre outras ações. “Tive a felicidade de ter o apoio do Nusi, grande companheiro de caminhada em meio às dificuldades que são comuns para um deficiente como eu”, finalizou o novo bacharel, ao nomear os professores Silvana Diamantino França e Carlos Alberto Siqueira Alexandre, coordenadores do Nusi, em seus agradecimentos, além da intérprete Daiane Paula Xavier, que o acompanhou no evento. (Girleno Alencar)