Carta aberta alerta tragédia anunciada na duplicação da BR-135 - Rede Gazeta de Comunicação

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Carta aberta alerta tragédia anunciada na duplicação da BR-135

GIRLENO ALENCAR

Uma Carta aberta elaborada pelo ex-secretário de Planejamento de Montes Claros de 2005 a 2008, Gilmar Ribeiro, alerta sobre o risco de uma tragédia na duplicação da BR-135, na serra de Montes Claros. Ao contrário de violências concentradas em minutos, como nas registradas em Mariana e Brumadinho, tal desastre ocorrerá em pequenas etapas, atingirá norte-mineiros e ocasionalmente pessoas de fora, mas as perdas humanas serão bem maiores. “Sendo assim peço atenção de vossas excelências, responsáveis diretamente pela tragédia que está sendo produzida a olhos vistos, e com dinheiro público, no Norte de Minas, mais especificamente em Montes Claros”, destaca o documento.

“Trata-se da duplicação da BR-135 no trecho da serra, na saída para Bocaiuva. Projeto mal elaborado e mal executado desde o início e agora está em uma etapa chave onde é possível salvar centenas de vidas. O projeto de duplicação foi elaborado no processo de concessão da BR-135, no governo passado e revisto no atual governo. Ou seja, os dois deram suas contribuições para o que se avizinha. No entanto, a responsabilidade pelo que virá a partir de agora é de toda a sociedade civil da região e em especial dos senhores deputados, responsáveis legais por zelar pela correta aplicação dos recursos públicos referentes ao Estado de Minas Gerais.”

“Mais que recursos financeiros, no momento trata-se de zelar pela proteção de vidas humanas. Apesar da não publicização do projeto detalhado da duplicação entre Montes Claros e Bocaiuva, devido o início das obras, mesmos os leigos já percebem tratar-se de uma obra econômica financeiramente, mas futuramente dispendiosa em termos de acidentes, os quais resultarão em muitas mortes e mutilações. Lembrando que os recursos ali são bancados exclusivamente pelo caríssimo pedágio pago pelos usuários da rodovia. Para demonstrar nossas preocupações, listamos aqui algumas ações e/ou omissões da empresa responsável pela obra, as quais podem ser observadas pela senhora e pelos senhores, em loco”.

“Tais observações certamente serão confirmadas e terão outras levantadas por pessoas mais entendidas no assunto. Esta pode ser uma saída urgente, ouvir pessoas especializadas e isentas, assim como os usuários da estrada como forma de subsídio para as ações de autoridades responsáveis. As ações e omissões observadas por usuários da rodovia: 1 – Retirada de enorme quantidade de terra das margens da estrada criando imensos buracos rentes ao acostamento. Um cochilo do motorista que antes poderia significar uma saída de pista sem grandes consequências, a partir de agora pode se tornar um acidente fatal. 2 – Colocação de montanhas de terra ao lado da rodovia o que também impedirá uma saída de emergência da pista, pela direita, situação comum em um aclive da dimensão do trecho. Ou seja, uma carreta sem freios que poderia sair pela direita será obrigatoriamente direcionada para se chocar com veículos do mesmo porte ou esmagar automóveis menores a sua frente. Vale lembrar que isto já está ocorrendo com as barreiras de concreto pré-moldado colocadas na principal curva da serra, inclusive já tendo causando mortes no ano de 2023.”

“O ápice da tragédia anunciada será o resultado do modelo de duplicação aparentemente escolhido pela empresa. Vale lembrar que não sabemos se com o aval do poder público ou não. Tudo indica que teremos uma duplicação nos moldes da famigerada serra de Igarapé, na rodovia Fernão Dias, ligação entre Belo Horizonte e São Paulo. Traduzindo, teremos duas pistas separadas apenas por pequena barreira de concreto onde os veículos continuarão trafegando na descida da serra a cerca de dois metros de distância, em direções opostas. Tais barreiras não conseguem impedir batidas frontais quando estão envolvidos veículos de grande porte nos acidentes.

“Cabe também alguns questionamentos sobre a duplicação da BR-135. A Eco 135 possui um vídeo institucional onde apresenta a duplicação e demais melhorias no trecho de sua responsabilidade, mas o mesmo vai da BR-040 até Bocaiuva. Por que ela nunca detalhou o trecho mais complexo da obra, ou seja, de Bocaiúva até Montes Claros? Quantos retornos teremos, onde eles estarão localizados? Onde está o projeto executivo e detalhado da obra? A sociedade civil pode opinar na construção de uma obra que está sendo construída com seus recursos diretos? Concluindo, teremos uma duplicação tão sonhada que poderá se transformar em um grande pesadelo para os usuários da BR-135 na serra de Montes Claros. Os acidentes tendem a aumentarem e junto com eles o aumento da letalidade também. Com a palavra as autoridades responsáveis por fiscalizar as atividades do poder público de Minas Gerais”.

Diga-se de passagem, o auxílio dos vereadores da cidade assim como demais autoridades também será bem-vindo. A hora de cobrar uma obra segura para todos é agora, depois só resta contar, por longos anos, os mortos e feridos decorrentes não de simples acidentes, mas da irresponsabilidade e omissão daqueles que poderiam ter feito diferente e não fizeram. Com a palavra nossa deputada estadual, nossos deputados estaduais e todos aqueles que puderem intervir para evitar essa tragédia anunciada.