Auditorias, fraudes e expectativas do mercado e da opinião pública (Parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação
Auditorias, fraudes e expectativas do mercado e da opinião pública (Parte 2)

VALDIR COSCODAI

Presidente do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

O gap de expectativa gerada pelo conhecimento está relacionado às diferenças entre o conhecimento dos usuários de informação contábil e auditores: a percepção do público sobre a atuação da auditoria e o que de fato é função e responsabilidade dos auditores independentes geram esse gap. O desconhecimento sobre o que é requerido do auditor faz com que o público tenha uma expectativa irreal de que toda e qualquer irregularidade, mesmo que imaterial, deveria ter sido coibida e impedida por esses profissionais.

A diferença das expectativas entre o que se espera do trabalho de auditoria e o que os padrões e/ou legislações existentes exigem é abordada pelo gap de desempenho. Este pode ser proveniente da falta de clareza ou complexidade de certas normas, diferentes interpretações delas ou baixa qualidade nos trabalhos em decorrência de despreparo ou falta de treinamentos da equipe responsável pela auditoria.

O uso de novas tecnologias e as dificuldades de alinhar sua aplicação na auditoria definem o evolution gap. É o caso do Big Data, Data Analytics e Machine Learning. Um exemplo do impacto desse gap é demonstrado pelo esforço do IAASB em criar um grupo de estudo e discussões acerca do uso de tecnologias na auditoria.

Embora a análise do expectation gap proposta pela ACCA esteja voltada primariamente para a auditoria, cabe destacar que o “ecossistema” dos relatórios financeiros envolve a gestão e governança das empresas, auditores internos e auditores independentes, reguladores e autoridades. É importante que os usuários dos relatórios financeiros entendam esse “ecossistema” para discussões mais abalizadas. Todos os fatores que compõem são relevantes no combate às fraudes e redução de gaps de expectativas: estabelecimento de uma cultura ética, com adequados controles internos monitorados; eficaz governança corporativa; auditores internos e externos qualificados e atualizados; legisladores e reguladores que emitam normas suficientemente exigentes e que realizem supervisão periódica; e um Judiciário que atue dentro de seu papel e julgando com consistência, imparcialidade e agilidade.

Um posicionamento ativo para redução de fraudes é um ponto relevante que deve ser buscado por todas as partes: as diferenças de expectativas, nas três dimensões propostas, podem estar presentes para cada um, de acordo com o seu papel. Portanto, não afetam apenas a credibilidade da auditoria, mas a confiança nas informações, no mercado como um todo e, enfim, na sociedade.

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