Após chegar a cogitar a possibilidade de instalar grama sintética na Arena MRV, o Atlético pode se ver ‘forçado’ a abandonar a ideia. Durante o arbitral que definiu as mudanças para o Campeonato Brasileiro, realizado pela CBF nesta terça-feira (5), o tema voltou a ser debatido e o uso deste tipo de piso pode até ser vetado a partir da competição de 2025.
A reunião reuniu, além da própria Confederação Brasileira de Futebol, os clubes da Série A e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). Pela primeira vez, os capitães de cada uma das equipes também puderam participar.
Dos 20 clubes que disputam a Série A do Brasileiro, no momento apenas Athletico-PR, Botafogo e Palmeiras mandam seus jogos em estádio com grama sintética. O clube paulista, contudo, tem jogado na Arena Barueri, de grama natural, até que os problemas do Allianz Parque sejam resolvidos.
Há uma mobilização de outros clubes para um veto aos “tapetes”. Um comitê vai passar a debater a questão, prevendo uma possível proibição, mas não há chances de isso acontecer ainda em 2024.
No Atlético, a possibilidade da implantação do gramado sintético veio motivada por dois fatores: o estado ruim do campo quando a Arena foi inaugurada no ano passado e a questão financeira, já que a manutenção da grama natural é mais cara.
Sergio Schildt, presidente da Recoma, empresa especializada em infraestrutura esportiva e que já instalou mais um milhão de metros quadrados de gramados sintéticos esportivos, ressalta essa diferença.
“Não há mais dinheiro público para financiar estádios de futebol e a conta precisa fechar para os clubes. Manter um gramado natural de boa qualidade custa caro e quase inviabiliza o multiuso do estádio”, pontua.
Discordância
Entre os clubes, é possível perceber defensores mais intensos em cada um dos lados. Leila Pereira, presidente do Palmeiras, defende a manutenção dos gramados sintéticos. Até mesmo um desempenho baixo em gramados sintéticos diante de adversários como São Paulo, Flamengo e Fluminense é citado como argumento.
Do outro lado, um exemplo é Mario Bittencourt, presidente do Fluminense, que é crítico a esse tipo de piso. Apontam-se prejuízos na performance esportiva e aumento de lesões. A CBF não considera as análises feitas até então como conclusivas e quer chegar a uma avaliação própria a partir de uma consultoria estrangeira e de uma Comissão de Médicos. O debate será levado também a representantes também dos clubes das Séries B, C e D do Campeonato Brasileiro.
Um grupo formado pelo São Paulo, como representante da Libra, e outros quatro clubes da Liga Forte Futebol (LFF) posiciona-se contra o gramado artificial. O contra-argumento palmeirense é a falta de discussão sobre a qualidade mínima dos gramados naturais. Em 2023, Maracanã, Mineirão e Mané Garrincha foram alguns dos estádios criticados pela grama. Os três sediaram jogos da Copa do Mundo, há 10 anos. A CBF ainda não se posiciona, mas deixa claro que o veto só seria possível a partir do próximo ano.
Qual o impacto do gramado sintético no jogo?
Conforme levantamento feito em novembro de 2023, considerando os resultados de cada uma das equipes na última e primeira temporada após a implementação do gramado sintético, Athletico-PR e Botafogo tiveram melhora de desempenho. Em 2016, o clube paranaense saltou de 63,9% de aproveitamento para 79,8% – crescimento equivalente a 25% nos pontos ganhos. Naquela temporada, a equipe garantiu inclusive a classificação para a Libertadores de 2017 e perdeu apenas duas partidas; em 2015, haviam sido quatro derrotas.
Em 2022, o Botafogo teve apenas 49,5% de aproveitamento em casa, com 13 vitórias e 12 derrotas. Já na última temporada, desde abril, quando foi inaugurada a grama sintética do Estádio Nilton Santos, teve 100% de aproveitamento no primeiro turno do Campeonato Brasileiro, que alçou o time à liderança isolada na época.
Na contramão, o Palmeiras foi o único dos três clubes que observou uma queda em seu aproveitamento após a instalação do gramado sintético. Em 2019, conquistou 78% dos pontos; na temporada seguinte, a primeira com o novo tipo de grama, 70,4%.
Intensidade do calendário é vilã para grama natural
Maracanã e Mineirão sofreram críticas, principalmente desde que a discussão grama sintética x grama natural evoluiu. Uma das dificuldades nos estádios com gramado natural é a recuperação do campo, que costuma receber dois jogos por semana. Em 2023, o estádio carioca sediou mais de 70 partidas. O Mineirão, apenas 32.
“Com o volume de jogos que temos e com a necessidade de garantir a operação dessas partidas, a viabilidade do gramado natural é quase nenhuma no Brasil. O questionamento que fica é: preferimos uma grama sintética em boas condições ou um gramado natural esburacado?”, reflete Schildt, da Recoma.
Os shows em estádios também prejudicam a recuperação, assim como a chuva. Por outro lado, a grama sintética não é garantia de qualidade após uma apresentação. Um caso que ilustra isso é a reclamação de Abel Ferreira sobre as “miçangas” deixadas no Allianz Parque após apresentações da cantora Taylor Swift. (OTempo)
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