HEIKO HOSOMI SPITZECK
Diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral
Numa revisão das previsões dos maiores sites e revistas de negócios internacionais, fica claro que a onda do ESG (environmental, social, governance – inglês para ambientais, sociais e governança corporativa) vai continuar crescendo e atraindo mais investimentos. Com base em minhas discussões com investidores e vários executivos, vejo as seguintes três tendências de ESG que vão dominar o ano de 2021.
1. Diversificação de temas além de mudanças climáticas
Mesmo com a vacina em vista, a pandemia ainda vai dominar a discussão no novo ano. Junto com isso, a procura pelas causas do surgimento da pandemia, como exemplo as zoonoses. Zoonoses são doenças que passam dos animais aos humanos, como no caso da covid. Vários artigos publicados em revistas científicas apontam o desmatamento e a perda de biodiversidade como algumas das causas da pandemia e como fatores significativos de risco para futuras pandemias. Entre as plantações mais prejudiciais à biodiversidade, está a soja. Muitos dos grandes produtores como Bunge, Amaggi e Cargill já têm políticas de zero desmatamento. A soja é essencial para a produção de proteína animal e consequentemente para empresas como BRF e JBS. Se o mundo quer se proteger de futuras pandemias, podemos esperar mais políticas e pressões ao longo da cadeia de valor frente a temas como desmatamento e preservação da biodiversidade.
Outro tema que continuará a ganhar relevância é a questão da desigualdade, também muito acentuada pela pandemia. E o que as empresas podem fazer? Tome o exemplo do Magazine Luiza – que para ajudar pequenos varejistas a sobreviver durante a pandemia, ofereceu sua plataforma Parceiro Magalu. Só até maio, incluíram 20.000 varejistas e se comprometeram a digitalizar 100.000 até o final de 2021. Alguns consumidores vão começar a se perguntar: compro na Amazon e faço o Jeff Bezos ainda mais rico ou compro na Magalu e ajudo ao varejo no Brasil? A pergunta que vai surgir com mais força é: como a empresa compartilha o valor gerado com vários stakeholders e combate as desigualdades? Muitas empresas não vão saber como responder. Ao mesmo tempo, vamos ver novas métricas que avaliam quem na cadeia de valor fica com quanto do lucro. Para mim esse é o hot topic (tema quente) não só para 2021, mas para a próxima década.
2. Mais colaboração
A pandemia acelerou um outro movimento – a colaboração entre empresas em temas ESG. Muitos vão se lembrar de parcerias inusitadas como da AmBev, Gerdau, Prefeitura de São Paulo e Einstein, criando 100 leitos de UTI para o Hospital Municipal M’Boi Mirim. Acredito que esse movimento foi motivado por causas filantrópicas, porém vamos ver mais colaborações estratégicas. Temas como o desmatamento não podem ser resolvidos por uma empresa só. Itaú, Bradesco e Santander tiveram uma reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão sobre o desmatamento, a JBS lançou um fundo de investimento chamado “Juntos pela Amazônia”, convidando outras empresas a co-investir em iniciativas que visam o desenvolvimento sustentável da região. É simplesmente mais eficiente, e consequentemente mais barato, colaborar em temas ESG que são relevantes para várias empresas. A mesma lógica se aplica a temas como desigualdade, mudanças climáticas, resíduos pós-consumo entre outros. A liderança da empresa só precisa entender que nestes casos colaborar é melhor que competir, e se desapegar de colocar seu logo nas iniciativas, o que muitas vezes não ajuda a atrair outros parceiros.
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