Alguns encontros entre arte e vacina (parte 3) - Rede Gazeta de Comunicação
Alguns encontros entre arte e vacina (parte 3)

CAROLINA REZENDE

Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte (PGEHA) da USP

EDSON LEITE

Professor titular do Museu de Arte Contemporânea da USP e do PGEHA-USP

No segundo semestre de 2020, a obra colocada em um suporte rente a uma parede de Roma, Itália, traz a imagem de Santo Estevão envolto em vestimenta que parece misturar tons de verde e azul. O santo carrega um incensário na mão direita, enquanto, com a esquerda, aperta uma seringa que emana uma substância alaranjada. Nas laterais da imagem, é possível ler: “Sagrada Vacina”. Feita pelo artista urbano Mauro Pallotta, conhecido como Maupal, a obra também remete às criações de artistas bizantinos, trazendo alguns elementos daquela arte, como frontalidade e bidimensionalidade, além do fundo que remete ao dourado (em uma simbologia de cores, na arte bizantina, o céu dourado do fundo tinha ligação com a salvação).

Perto do Natal de 2020, em uma parede de Barcelona, Espanha, o artista urbano conhecido como Tvboy apresentou a imagem de um Papai Noel vestido de verde, gorro e luvas azuis. Com a lata de spray vermelha, a figura natalina substitui a palavra Navidad, de Feliz Navidad, por Sanidad (algo como trocar a palavra “Natal” por “Saúde”); enquanto, no ombro esquerdo, sustenta um saco amarelo com os dizeres: “Vacina para a covid-19”. Em sua conta no Instagram, o artista ressaltou: “Querido Papai Noel, você já sabe…”.

No Brasil, ao longo do segundo semestre de 2020, o artista urbano Eduardo Kobra apresentou, nas suas redes sociais, obras que destacam a vacina para o combate da covid-19. Em uma delas, o recipiente que guarda a vacina está aberto e parte da substância líquida, que preenche o seu interior, toma forma de uma ave a alçar voo, talvez uma pomba, como se buscasse encontrar a liberdade. Ao fundo estão as formas geométricas, características dos trabalhos do artista, remetendo ao mapa do mundo. Na outra imagem, o invólucro aberto da vacina liberta várias borboletas. Cada uma delas alude a um país diferente. A representante do Brasil está pousada bem perto do vidro da vacina. No fundo da obra, os elementos geométricos lembram uma borboleta maior. A borboleta pode simbolizar muitas coisas, a depender do povo, da cultura, da religião, da região. Sua metamorfose pode simbolizar a transformação. Desse modo, talvez a obra do artista diga muito sobre mudança, conhecimento científico, proteção, liberdade e esperança atrelados, no nosso tempo, à importância do espírito cívico e da vacinação massiva.

Arte e ciência não são antagônicas, mas complementares. Unidas elas podem induzir à fé e à esperança. Podem testemunhar a história, denunciar injustiças, elevar o sublime e trazer à tona o que há de melhor no ser humano. A abordagem de vacinas, por meio da arte, contribui para expressar o passado, aproximá-lo do presente, bem como fortificar a relevância da imunização em massa para conter a disseminação de doenças e salvar vidas.

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