Acesso à água conquista produção e qualidade de vida no Norte de Minas - Rede Gazeta de Comunicação

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Acesso à água conquista produção e qualidade de vida no Norte de Minas

Nascido em Jaíba, Norte de Minas, o produtor rural Charles Coutinho de Souza viu de perto a chegada de um dos maiores projetos de irrigação do mundo, o Distrito de Irrigação do Jaíba, e a transformação que foi proporcionada à atividade rural da região. Os pais do produtor atuavam com o plantio de algodão, mas migraram para a fruticultura exatamente a partir da chegada da água em melhores e maiores condições. Ele coloca este acesso ao recurso hídrico como estratégico para a sustentabilidade rural.

Josafá Ferreira Lima, de Espinosa, conta que já teria deixado a atividade rural se não fosse pela irrigação. Morador de uma das regiões que mais sofrem impactos com as chuvas inconstantes, ele tem conseguido diversificar a produção na propriedade e fazer o negócio se tornar cada vez mais rentável. “Se não fosse a irrigação eu tinha parado há muito tempo, porque o clima da região é muito seco”, alega.

Com tanto retorno por meio da irrigação, o debate no entorno de políticas públicas para acesso e uso sustentável da água na região são constantes, com intensa participação do Sistema Faemg Senar. Entre a implementação de políticas públicas voltadas para a irrigação, a expansão de novas culturas para a região graças a essa tecnologia e novos projetos para levar o acesso a água de qualidade para pequenos produtores, são muitas as iniciativas para que o clima seco não seja mais um algoz, mas sim só mais uma característica do Norte de Minas.

Realidades de sucesso

“São três patrimônios aqui na empresa: solo, capital humano e a água”, ressalta Charles Coutinho de Souza. Para ele, sem a água não é possível ser sustentável e nem se manter produzindo alimentos para o mundo, declarou. Seguindo os passos da família, ele tem investido na fruticultura há 12 anos, com foco maior no plantio de limão, com 18 hectares, e banana, onde possui uma área de 22 hectares. Toda a extensão da propriedade recebe estratégias de irrigação. ‘Estratégias’, como ele gosta de reforçar, já que entende que a água, especialmente com as condições climáticas instáveis do Norte de estado, precisa ser mais bem tratada.

“Existem produtores que até adquirem sistemas de irrigação, mas tem uma diferença entre ‘molhar a plantação’ e ‘irrigar’. Irrigante é aquele que atua com técnica, que planeja a quantidade certa de água por dia. Sem cálculo e manejo, perdemos água e investimento. Todos procuram produtividade e produção. Para isso é preciso inovar, aprimorar o uso do sistema de irrigação”, pontua Charles Coutinho.

No caso de Josafá Ferreira de Lima, já são 10 anos irrigando, tanto para a fruticultura com a banana quanto para formação do pasto e plantio de hortaliças. “No início fiz sem muita prática, sem conhecer qual tipo de irrigação e equipamento usar para evitar desperdício. Mas nos últimos anos venho ajustando e vendo o retorno na produção melhorar”, comemora.

Água para o desenvolvimento

No início deste mês, durante o lançamento da expansão do projeto Agro+Verde para a cultura do cacau, iniciativa que vai beneficiar produtores em regiões irrigadas, diretores e técnicos do Sistema Faemg reforçaram a importância do acesso à água, que ganhou também destaque na fala do secretário de Estado de Agricultura, Thales Fernandes.

“Entre as principais demandas dos nossos produtores rurais no semiárido mineiro está o armazenamento de água. É ter o recurso hídrico para irrigação, para produzir alimento. Já estamos discutindo alternativas para aumentar a área irrigada do estado, que hoje é só de 15,7%. Só assim poderemos trazer renda, emprego e dignidade para as pessoas no campo”, declarou o secretário.

Um passo importante, atrelado a essa visão de novas alternativas para a região, foi dado com a assinatura, em abril deste ano, do protocolo de intenções que visa a regularização dos usuários das águas subterrâneas no Norte de Minas. O Sistema Faemg Senar, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento vão atuar de maneira conjunta para melhorar as condições na busca de segurança hídrica para os produtores rurais.

O protocolo alcança a bacia do Rio Verde Grande e visa orientação relacionada às boas práticas, desenvolvimento de arranjos para apoiar a regularização dos usos de água, bem como de mecanismos e propostas que possam auxiliar no incremento da disponibilidade hídrica na bacia.

Novas fronteiras agrícolas

Os avanços produtivos, que passam pela irrigação, têm atraído novos investimentos em várias cidades, incluindo a consolidação de plantios pouco comuns para a região, como é o caso do café, que é produzido com nível de exportação. Na região da Serra do Cabral, que abriga, entre outros municípios, Várzea da Palma, Buenópolis, Lassance e Francisco Dumont, várias empresas estão aliando tecnologia e oportunidade.

O presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Norte de Minas Gerais (Agro-NM), Luis César Freire Versiani, tem acompanhado de perto estes avanços. De forma inovadora, os cafezais são construídos com estrutura de barramentos e piscinão para a irrigação, o que ajuda diretamente em períodos de estiagem, já que a captação serve como uma reserva estratégica. “Não adianta ter estrutura sem manejo, é preciso essa segurança hídrica nos projetos rurais da região”, declara Luis César.

Com monitoramento altamente tecnológico, onde sensores identificam o momento e local exatos em que é necessário aumentar ou reduzir a oferta de água, a irrigação dos cafezais visa a sustentabilidade e a estruturação para atração de novos empreendimentos. “A legislação ambiental tem exigido estudos para manter a eficiência dos sistemas de irrigação. Dentro da gestão da propriedade, esse novo status da sustentabilidade precisa estar presente. Hoje a região é a menina dos olhos do estado, com perspectivas de negócios bons, mas é preciso atuar estrategicamente”, avalia o presidente da Agro-NM.

De olho no futuro

O tema água tem direcionado o futuro do Norte do estado não só para quem investe. Os novos profissionais se dedicam a implementar os saberes acadêmicos porteira adentro. É o caso dos jovens acadêmicos da empresa júnior Uniagro, da Unimontes de Janaúba.

O grupo, contratado pelo Distrito de Irrigação do Gorutuba, atua em 55 propriedades da fruticultura com análise do sistema de irrigação e produtividade. A proposta é levar mais conhecimentos a pequenos produtores. O projeto, que pretende atingir 200 propriedades até sua conclusão, ganhou tanto destaque nos últimos meses que recebeu convite do Sindicato dos Produtores Rurais de Janaúba para integrar a Maratona Faemg Jovem.

“Em 2015 houve uma forte crise hídrica na região e pequenos produtores da banana abandonaram a atividade. O nosso projeto visa contribuir para que essa situação não se repita, direcionando conhecimentos para o desenvolvimento da região. Fazemos um trabalho de análise e em campo, ajustando o manejo, como o tempo de irrigação, análises de produtividade e de solo”, explica a bolsista e técnica de campo do projeto, Mary Ingrid, analista de manejo irrigação e geoprocessamento.