GAUDÊNCIO TORQUATO
Jornalista, escritor, professor titular da USP e consultor político
A história da Humanidade é recheada de coisas e perfis extravagantes. O imperador Calígula nomeou senador seu cavalo de estimação. Diz-se que o sultão otomano Ibrahim I praticava arco e flecha nos servos de seu palácio e ainda mandava conselheiros à busca da mulher mais gorda para ser sua esposa.
O imperador romano Heliogábalo começou suas loucuras aos 17 anos. Com amantes de ambos os gêneros, usava mulheres nuas para carregá-lo enquanto estava em cima de uma carruagem, de onde as chicoteava. Certa ocasião, seus convidados foram amarrados a uma roda d’água, que girou lentamente e os afogou. O presidente do Turcomenistão, Turkmenbashi, dava seu nome aos dias da semana e, não satisfeito, construiu uma estátua dourada de 24 metros voltada para o sol.
Já o rei Sol, Luis XIV, desfilava no Palácio de Versalhes em um cavalo cravejado de diamantes. Seu compatriota, o rei francês Charles VI, imaginava ser feito de vidro. E Idi Amin Dada, o ditador de Uganda, garantia que conversava com Deus. Outros se consideravam deuses.
E por aí segue o desfile de excentricidades. Entre nós, o que mais se narra é sobre os escândalos da vida privada de um ou outro governante. Sabemos, por exemplo, que Pedro I dava vazão a mexericos. Disfarçado, saía à noite para a farra. Chegou a se relacionar com Maria Benedita, irmã mais velha de sua amante, Domitila de Castro, a marquesa de Santos. De lá para cá, a fileira cresceu.
O fato é que, hoje, a estampa das coisas mirabolantes se volta para o cotidiano da política, principalmente na área do disse-que-disse, mentiras, versões e meias verdades. Flagremos a paisagem seca de Brasília. Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro chegou a insinuar que o vírus foi um instrumento da “guerra química” para propiciar a um país asiático crescimento econômico: “Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês. O que está acontecendo com o mundo todo, com sua gente e com o nosso Brasil?”. Foi mais um torpedo contra a China nesse momento em que grande parte do território aguarda os insumos lá produzidos para abastecer o Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac.
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