A resiliência da agricultura (parte 2) - Rede Gazeta de Comunicação

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A resiliência da agricultura (parte 2)

SÉRGIO COUTINHO

Co-CEO Grupo Zass

Assim nasce a discussão de se não faria mais sentido simplesmente garantir aos dependentes e inimpregáveis uma renda básica universal. Mais barato e eficiente do que alocarmos tantos recursos (no Brasil, entre 40% e 50% do todo) ao Estado, que consome a maior parte na sua própria manutenção, direcionando aos necessitados apenas uma ínfima parcela do que foi tomado do pagador de impostos. Divago.

Os incrementos produtivos são, portanto, mudanças de natureza geométrica. Conseguimos prever o futuro imediato com alguma precisão, mas não estamos prontos para estimar o que vem depois, por causa do efeito multiplicador composto. São mudanças marginais, evolutivas, de destruição criativa, Schumpeterianas. Começamos com uma célula e pisamos na lua.

Há, entretanto, um outro tipo de mudança relevante inesperada, advinda de eventos raros, mas cujo impacto tremendo e que transforma permanentemente o panorama. Os impactos desses eventos foram recentemente descritos e batizados de “Cisnes Negros” e popularizados pelo analista de risco Líbano-Americao Nassim Nicholas Taleb.

A única constante é a mudança, mas, a mudança não é constante. Ela vem incremental, proporcional, destrutivamente criando, até que algo muda, chacoalha tudo e muda as regras do jogo para sempre.

Mas há uma exceção. Mesmo com a coletivização forçada da agricultura pelo governo soviético da década de 30, que culminou na morte por fome de milhões de pessoas (entre três e quatorze, dependendo da fonte), e no confisco dos alimentos da Ucrânia pelo Estado Soviético, conhecido como Holodomor, que culminou em trágicos eventos de canibalismo, origem do dito popular “comunista come criancinha”.

Mesmo com a grande fome chinesa do “Grande Salto Adiante” causada pela coletivização forçada através da reorganização da produção agrícola em “Comunas Populares”, culminou na morte de ainda mais milhões de pessoas (entre dez e cinquenta e cinco, dependendo da fonte).

Mesmo com tsunamis, furacões e pragas, mesmo com guerras, crashes e mortes, mesmo com eventuais decréscimos pontuais causados pela coletivização forçada e as suas devastadoras consequências.

A agricultura global segue crescendo em produtividade.

O agricultor é frágil. O fruto do seu trabalho é sensível ao clima, às pragas, às mudanças regulatórias, ao câmbio, à mato-competição e a tantos outros. Mas, se o agricultor é frágil, a agricultura é resiliente. Há substituto para qualquer produto individual, mas não há substituto para o ato de comer.

É da natureza do homem comer e é da natureza do trabalhador rural produzir. A necessidade da segurança alimentar global, função primordial e basilar, nos obriga a fazer com que assim seja.

Nossas vidas dependem, de maneira bastante literal, do desenvolvimento das novas tecnologias que suportem o aumento de produtividade dos agricultores do amanhã.

E é nossa missão garantir que isso aconteça de forma ambientalmente sustentável, socialmente responsável e economicamente viável.