ANDRÉA LADISLAU
Psicanalista
Na semana em que se comemora o dia do psicólogo, 27 de agosto, os profissionais de saúde mental comemoram maior adesão da sociedade aos cuidados voltados para os transtornos e distúrbios psíquicos.
A pertinência maior da busca pelo profissional de saúde mental se deve ao fato de que estamos vivendo um momento pandêmico que, evidenciou o aumento do número de casos de doenças mentais por todo o mundo, elevando os números de atendimentos psicoterápicos.
Ou seja, vemos que aos poucos a relação do ser humano com a saúde mental mudou. Mas ainda é uma mudança tímida, pois somos cercados por uma cultura de abandono do doente psíquico. Uma realidade nua e crua, cercada por preconceitos sentidos na pele por quem enfrenta qualquer tipo de transtorno mental.
Embora, o contexto atual venha, cada vez mais, protagonizando questões psicológicas em função do advento da internet e das redes sociais, historicamente a nossa sociedade desenvolveu-se fazendo vistas grossas para o preconceito em relação a pessoas que sofrem de transtornos mentais em que, inclusive, muitas passam por constrangimentos e são vítimas de abusos diversos.
Ao ponto de sentirem a necessidade de esconder que fazem tratamento psiquiátrico ou são acompanhados por um psicólogo, psicanalista ou psiquiatra, porque sabem que podem ser discriminados ou excluídos.
Por isso, é extremamente relevante a promoção de um maior engajamento da sociedade, através de um olhar diferenciado. Que seja uma oportunidade provocativa à reflexão sobre essa cultura que, na grande maioria das vezes, é negligenciada por tabus e preconceitos que devem ser desmistificados.
A linguagem da mente ainda é desconhecida para grande parte da população. As pessoas acreditam que, faz parte do rol de doenças mentais apenas os casos mais severos em que os sintomas são aparentes. Não compreendem que a ansiedade e a depressão também são problemas psíquicos, e que apresentam o maior índice de crescimento hoje entre as doenças mentais diagnosticadas. Inclusive, a depressão já é considerada a doença do século.
São muitos os pontos nevrálgicos envolvidos no tema, mas o estigma maior está associado a falta de conhecimento das pessoas que é o que, consequentemente, gera toda essa conotação negativa. O ser humano carrega crenças limitantes e conceitos enraizados e, culturalmente, rejeita tudo aquilo que desconhece. Além disso, a falta de uma estruturação eficaz sobre a cultura da saúde mental, associada à políticas públicas sistemáticas e consistentes, também contribui para agravar o problema.
Outro fator desfavorável é a desigualdade social que impossibilita o investimento pessoal em serviços de saúde mental de qualidade. São necessárias melhorias profundas nas Redes de Atenção Psicossocial (RAPS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) espalhados por todo país, para acolher o maior número de pessoas possíveis acometidas por transtornos mentais. Afinal, todos estamos sujeitos a sofrer com algum tipo de transtorno mental ao longo da vida.
Esse estigma precisa ser quebrado e combatido através da popularização de assuntos relacionados à doença mental. Promover o acesso à informação é um grande antídoto de combate à Psicofobia (medo exagerado ou irracional da mente/ preconceito ou discriminação contra pessoas com transtornos ou deficiências mentais).
Afinal, o grande entrave está no fato de que, doenças físicas são mais perceptíveis que as doenças psicológicas, o que torna os diagnósticos tardios por dificuldade em reconhecer a necessidade de ajuda.
O adoecimento mental traz uma certeza: sem saúde psíquica não existe paz, não há harmonia nas relações e nem energia para cuidar das coisas mais simples da vida. Além do mais, não há sossego para zelar por quem amamos. Esse cuidado com as dores da mente é um investimento urgente que gera bem-estar e equilíbrio ao ser humano.
Precisamos mudar nossa forma de pensar em relação a quem faz tratamento e acolher essas pessoas, pois se as feridas do seu próximo não te causam dor, a sua doença é mais grave do que a dele. Visto que, terapia não é coisa de maluco. É um ato de autocuidado e autoconhecimento. Como seres únicos estamos sempre em busca de sustentação e capacitação para uma vida saudável.
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