A parentalidade na vida real e na ficção - Rede Gazeta de Comunicação

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A parentalidade na vida real e na ficção

SÉRGIO GIACOMELLI

Escritor, engenheiro eletricista

Eu tinha 11 anos. Era um final de tarde de domingo. Meu pai e eu voltávamos para casa após visitarmos meu tio. Estava chovendo, andávamos pelo lado da estrada desviando as poças d’água. A conversa entre pai e filho era agradável. Lembro dele segurando o guarda-chuva para nos proteger. Minha roupa estava seca, mas o ombro e as costas do meu pai estavam molhados. Percebi ali o cuidado e a proteção que ele tinha comigo.

Meu pai sempre aplicou uma disciplina positiva, com limites que preservavam nossa segurança moral com base em uma relação civilizada. Em casa ele e minha mãe se preocupavam em garantir com firmeza o senso de respeito mútuo entre todos nós apontando para os valores da família. Sua autoridade e seus limites no exercício de uma educação, com ensinamentos que pudessem encorajar nosso desenvolvimento pessoal e moral, criaram em nós um sólido vínculo familiar.

Quando escrevi o livro D’Angelo – O Viajante de Conca levei parte desse conceito familiar da parentalidade positiva para dentro da história. Leitores comentaram sobre a impressionante ligação de afeto entre pai e filho dos personagens Matteo e Giovanni. Mesmo adulto, o filho se espelha no pai na forma de agir, vestir e pensar. As caminhadas matinais até o trabalho é o momento de cumplicidade entre os dois. Giovanni supera suas inseguranças ao lado de seu pai que aconselha e orienta o filho.

Esta seria a convivência perfeita entre pais e filhos, mas a vida real nem sempre imita a arte e cenas lamentáveis às vezes fazem parte da realidade de muitas famílias. Sabemos que não existe uma receita pronta para criar filhos, mas pode-se questionar: quão permissivos foram aqueles pais com seus pequenos? Quais foram os limites morais para assegurar o respeito mútuo?

Indiferente das escolhas de cada um, os valores de família devem ser preservados para que os vínculos familiares sejam fortalecidos e respeitadas as diversidades individuais. São nas horas difíceis que esses vínculos se tornam ainda mais importantes, porque as pessoas se compadecem com as dores alheias, mas não com as derrotas, e se os fracassos acontecem na vida de um indivíduo é o seio familiar que naturalmente o irá acolher.

Nesse Dia dos Pais fica minha singela homenagem a todos aqueles que exercem a parentalidade positiva aos seus descendentes e que atribuem para a missão de ser pai. Para todos, que com dignidade e coragem, lutam pela união da família, a célula da sociedade, porque quanto maior o vínculo familiar e o respeito mútuo, maior a justiça social.