VINÍCIOS SANTOS
Esta semana eu vi um homem, que não aparentava mais que 40 anos, rasgando um saco plástico com os dentes, em uma grande lixeira, em frente a um prédio onde funcionam alguns escritórios e consultórios. Isso mesmo, um homem, jovem, desesperado por algo que, por ventura, lhe trouxesse algum sustento. E, entre tantas atitudes que eu poderia tomar, a primeira foi simples, à distancia, porém sincera: eu chorei. Um choro discreto e contínuo, por fora, porém avassalador e mais duradouro ainda por dentro.
Eu não vi apenas um homem, vi um filho, um irmão, um pai, talvez; alguém que há pouco tempo era uma criança, que deve ter tido sonhos, planos… Independente de como tenha sido sua vida, ele nasceu, cresceu, entendeu a realidade em que estava inserido e, por uma série de fatores, chegou a este momento.
Chamou também a minha atenção a absoluta antítese da cena, em que um homem rasgava o lixo com a boca, enquanto inúmeros carros extremamente luxuosos se enfileiravam estacionados, exatamente ao seu lado. Muitos que saíam do prédio, pelo homem passavam como se ele não estivesse. E segue tudo “normal”.
Certa vez li que quando você dá um prato de comida, uma moeda ou mesmo acena para um morador de rua, você não está mudando a realidade dele, ele segue sendo morador de rua. Porém, mostra a ele que ele não é invisível, que você o vê. E é claro que muitos justificam a falta de compaixão acusando absolutamente todos os moradores de ruas de serem dependentes químicos, às vezes até criminosos. De fato, alguns são. E não vou entrar aqui no mérito de quais situações os levaram a ser, apenas afirmo, de fato, alguns são. Não obstante, a cada dia que passa, passo a afirmar também que permitir que um ser humano definhe até a morte por fome, frio ou mesmo por abstinência é a forma de crueldade mais desumana normatizada pela atual sociedade.
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