A demissão pode ser uma alternativa de crescimento na carreira profissional - Rede Gazeta de Comunicação

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A demissão pode ser uma alternativa de crescimento na carreira profissional

Maria Inês Vasconcelos Rodrigues de Oliveira

Advogada

Pode parecer paradoxal, mas deixar um emprego pode ser uma atitude que pode impactar definitivamente e de maneira significativa, a carreira profissional. O que pode parecer uma incongruência na realidade é uma enorme oportunidade de crescimento. Muitos especialistas dizem que a autogestão é um talento importantíssimo na vida profissional.  Saber a hora certa de alçar voo e buscar uma alternativa na carreira é fulcral para o sucesso.

O que mais vimos e ouvimos no final de 2024, foram reflexões acentuadas sobre a finitude da vida, sobre paz e felicidade. O Natal e a virada de ano sempre evocam esses mergulhos mentais.  Em dezembro estamos todos esgotados.

A lei brasileira confere o direito às férias e o repouso semanal remunerado para atenuar o cansaço. Mas para além do cansaço físico, existe um cansaço maior, o mental. O trabalho que confere sentido à vida, pode também tirar. Pode se tornar fardo e um lugar de desassossego.

O Brasil, pasmem, registrou um recorde histórico de pedidos de demissão em 2024, com quase 8,5 milhões de trabalhadores deixando seus empregos de forma voluntária. O levantamento é da LCA Consultoria Econômica, com dados do Ministério do Trabalho, e foi divulgado pelo Jornal Nacional.

Fato é que os brasileiros estão cada vez menos acomodados e já se percebem com uma nova visão de realidade: a demissão pode ser salvação. Ao invés de eternizar no mesmo local de trabalho, poluído, tóxico ou numa empresa que não valoriza e descumpre a Lei, muitos trabalhadores têm partido para uma inovação fundamental no mundo do trabalho. Eles pedem demissão e sequer cogitam de rescisão indireta (modo de demissão por culpa da empresa).

Hoje, a metáfora central do trabalho é que não adianta fazer um remix naquele lugar ou naquela posição na qual não se pode esperar mais nada. Se antes o argumento de vida era que emprego não se larga, hoje o pensamento dominante é que o trabalho pode ser uma cova. Uma nova abreviatura surgiu: “não quero e não preciso  mais”.

Se antes, o medo da demissão assustava, hoje os trabalhadores estão muito mais despojados.

Para muitos o ritual de passagem de uma vida profissional infeliz, para um lugar novo e que confira mais sentido; por livre arbítrio tem se tornado um fato  mais corriqueiro. Com fortes as pessoas estão pondo limites aos desvios e ataques à dignidade, desigualdades e ilegalidades e pedem demissão para estacar esses comportamentos tóxicos.

Se de um lado temos um sistema econômico descontrolado que precariza milhões de postos de trabalho, de outro temos um consenso social e reagente, o trabalho tem que sentido.

Assim, muitos começam vida nova, carreiras inéditas e partem para uma nova etapa vivencial. “Eu sei que com a carteira que eu tenho e esses clientes, posso tanto ser dona do meu passe; como sair daqui.”, afirmou M. “O que não quero é passar a vida reclamando e olhando o tempo passar, nesse lugar que não me valoriza e onde sofro só ataques.” Já João, também se explica: “a gente é o gestor da nossa trajetória profissional, que no fundo é um tipo de casamento; chega um momento que é hora de sair de casa”.  “Quero pedir demissão e nem olhar para trás “. E assim tem sido.

Além disso, as pessoas costumam sentir que o trabalho não tem sentido e que mesmo bem remuneradas, determinados trabalhos colidem com a paz, com os limites éticos e com o ideal de ter uma carreira que confira, além de estabilidade, crescimento profissional.

Nota-se que algumas práticas em vigor, como a gestão por metas, meritocracia, assédio, alienação e outras formas negativas de gestão, levam de um estado a outro.

É como uma imigração.  “No começo parece que tudo vai bem, depois tudo parece desregulado”.

Freud dizia que aquele que permanece prisioneiro do passado, será sempre incapaz de fluir e agir. Isso significa que a nostalgia tem um peso muito maior sobre a vida profissional, quando não a reconhecemos.  E a eternização dos vínculos laborativos está retrofitada: hoje ninguém fica onde não quer, por medo. Viver sem vida, para manter um emprego ruim é passado.

O mantra foi revisitado: “é preciso mudar de emprego para se mudar de vida”.