Produtores aprendem técnicas de doma racional em busca de melhoria produtiva - Rede Gazeta de Comunicação
Produtores aprendem técnicas de doma racional em busca de melhoria produtiva

Entre um carinho aqui e outro ali, entram em ação escovas para dar uma coçadinha. Nem parece que entramos dentro de um curral, próximo a uma ordenhadeira mecânica. O ambiente, que costuma causar certo impacto e até estresse em muitos animais, tem sido ressignificado através de técnicas de doma racional, que fazem parte das práticas de bem-estar do rebanho, que crescem cada vez mais entre os produtores mineiros.

“O animal quando está em uma condição de estresse, que, por exemplo, acontece em um ambiente com muita gritaria, uso de ferrão, choques elétricos e atos agressivos, tem sua produção e produtividade afetados. O curso de doma racional para novilhas vem para favorecer o comportamento dos animais, para fazer uma produção de leite mais calma e fácil. Inclusive, substituindo o uso da ocitocina, hormônio comum na realidade das fazendas, usado para auxiliar na descida do leite”, explica a instrutora Pércia Rocha, durante curso realizado na cidade de São João do Pacuí.

Com as práticas de doma racional, o animal terá redução gradativa dos níveis de cortisol, o hormônio que é associado ao estresse. Durante o curso, os produtores rurais aprendem movimentos e rotinas que vão condicionando o animal, dessensibilizando, para ir provocando a interação entre o próprio rebanho e também com o tratador.

“As práticas antigas, os manejos que meu bisavô fazia, isso não é o que dá certo hoje. Nós queremos resultados diferentes, um resultado melhor. Aqui temos um gado que a base dele está no corte, onde a habilidade materna da vaca não é muito grande, então não desce o leite se o bezerro não ‘tiver ao pé’. Então, para a rotina da ordenha é um dificultador de manejo e de tempo. Quando usamos o paliativo, o hormônio ocitocina, isso aumenta nosso custo de produção e o processo em si”, enfatiza o produtor André Luiz Meneses, que cedeu a fazenda para a realização do treinamento.

Contemplado com o Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), através da entidade cooperada Fundação Credinor, o produtor tem buscado se capacitar para melhorar seu desempenho e também fortalecer a cadeia produtiva da região de São João do Pacuí. Ele, que mudou o foco da fazenda para a produção de leite nos últimos anos, mantém média produtiva de 100 litros por dia.

“A capacitação foi uma necessidade que a gente percebeu desde quando nós decidimos entrar no negócio, porque a percepção é que o ganho no leite é através do detalhe. Com qualidade e técnica, podemos atuar com venda junto aos laticínios. Capacitar traz uma possibilidade de estruturar uma cadeia importante para a região e melhorar para todo mundo os negócios”, destaca André Luiz.

‘Detox’ no comportamento

A ideia é fazer com que os animais entendam que estão em ambiente seguro, tirando comportamentos que foram sendo moldados pela rotina. No último dia de curso, por exemplo, a prática envolve colocar todos os animais dentro da estrutura de ordenha mecânica, simulando uma rotina de trabalho. A proposta é fazer o rebanho acostumar com sons, com a sensação de sugar da ordenha, entre outros.

Com grande experiência gerenciando fazendas na região, Ronaldo Pereira Gomes convive com a pecuária de corte e leite. Ele afirma que já aplicava algumas práticas de bem-estar animal, mas as novas técnicas serão indispensáveis na rotina. “Trabalhar a doma racional é muito bom, porque dá mais liberdade para mexer com o gado. Com as técnicas que foram ensinadas, o rebanho sente confiança na gente e isso vai ajudar a melhorar 100% o jeito de atuar no curral”, pontua Ronaldo.

A instrutora Pércia Rocha lembra que a mudança de raciocínio, de estilo de vida e trabalho dos tratadores e produtores impacta no dia a dia dos animais e no rendimento do rebanho. Por isso é necessário adotar mudanças na fazenda. “Tem que entender o manejo no todo. Por exemplo, a condição do bebedor de fornecer água para os animais precisa estar boa também. A ambiência, locais com árvores, para não deixar animais e funcionários expostos ao sol o tempo todo. É a gente pensar no bem-estar no todo”.

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