VINÍCIOS SANTOS
Professor e Jornalista
É inacreditável eu ter apenas 31 anos, e me lembrar de quando não existiam mais celulares que pessoas no mundo. De quando era muito raro ver um aparelho, e, quando víamos, era grande, pesado, e servia unicamente para – pasmem – fazer ligações. Tinha uns 12 anos quando chegou o primeiro celular à minha casa, “um aparelho para a família”, minha mãe disse. E ficamos fascinados.
Chega a ser engraçado. Li recentemente que faço parte da última geração de pessoas que nasceram sem o mundo inundado de tecnologia. Os últimos que se lembram de como era antes. E, sim, era muito diferente! Mas este texto não é sobre o passado distante, mas sim, sobre 2010, 2012 aos dias atuais. Nessa última década, o mundo virou de cabeça para baixo: muitas coisas que apenas víamos nos filmes futuristas hoje são obsoletas. A palavra “inacreditável” perdeu um pouco do seu sentido.
Hoje, a tecnologia já não é mais algo distante e faz parte do nosso dia a dia. Ela se faz presente nos algoritmos de redes sociais, em assistentes de voz – como Siri e Alexa – e até mesmo no reconhecimento facial do seu celular (que quase ninguém usa mais para ligações).
Se você está em outro planeta e ainda não ouviu falar sobre a Inteligência Artificial (IA), eu explico: trata-se de uma tecnologia programada para simular a inteligência humana e, assim, ter algum nível de autonomia para tomar decisões e resolver problemas lógicos. Porém, quem está por traz desta “máquina que pensa”? Acho ser um questionamento válido. Saber onde surgiu e os responsáveis por suas atualizações. Bem como, indagarmo-nos: até onde a IA irá chegar? Brincadeira (ou não), acho válido mencionar que existem meia dúzia de filmes de “O Exterminador do Futuro” que mostram que isto pode não ser uma boa ideia. Mas, enfim…
É sabido que as IA têm potencial, entre outras coisas, para contribuir com a disseminação de informações enganosas. Existem inteligências artificiais que criam imagens e textos, por exemplo. Além disso, há várias ferramentas que já foram utilizadas para a aplicação de golpes virtuais.
E há ainda vários pontos a serem debatidos. Lembro-me de que, quando o ator Paul Walker faleceu em 2013, sem ter finalizado as gravações de “Velozes e Furiosos 7”, foi emocionante o uso da tecnologia para fazer com que o seu personagem estivesse até o final da história. Mas hoje, 10 anos depois, as coisas tomaram proporções muito maiores. Há poucas semanas, uma campanha publicitária mostrou a falecida e icônica cantora, Elis Regina, cantando ao lado de sua filha – também cantora – Maria Rita, em um dueto que provocou reações antagônicas. Elis aparece dirigindo uma Kombi e cantando Como Nossos Pais, de Belchior, canção esta que teve sua letra cortada em algumas partes, na ocasião.
É importante dizer, que quanto ao direito de imagem ou do consentimento, a lei brasileira afirma que as famílias têm os direitos autorais. Mas há especialistas que defendem que não estamos lidando só com fotos reproduzidas, por exemplo, e que este debate deve ir mais além. Para estes, o consentimento de familiares não é o suficiente, a legislação não previa tamanha evolução em tão pouco tempo.
Não sou especialista. A mim, a propaganda de Maria Rita com a mãe não incomodou. Nem a conclusão do “Velozes e Furiosos 7”. Mas confesso que detestaria saber que assisti a um filme todo feito com atores escaneados. Sou um grande fã do “Superman”, do Christopher Reeve, mas não gostaria de assistir a um novo longa dele, feito digitalmente. Ele ficou no passado e assim deve ser. Além do que, há outros atores, novas técnicas de filmagem e atuação, e faz-se necessário dar oportunidade ao novo.
Também não gostei de ver uma música cantada por Ana Castela com a falecida Marília Mendonça. Se viva, Marília poderia perfeitamente ser amiga da cantora de 19 anos. Ou não. O vídeo que me foi enviado nas redes me causou um sincero mal-estar.
Inevitavelmente, acabo me tornando um grande crítico da tecnologia. Não dela como um todo, é claro, caso contrário este texto nem chegaria até você, amigo(a) leitor(a). Entretanto, é como já disse: até então não é ilegal tudo que vem acontecendo. Mas não me parece ético e moral.
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