Numa ação conjunta do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), os municípios de Espinosa e Porteirinha concluíram na sexta-feira (14), a realização de encontros com o objetivo de construir a linha de cuidado para a doença de Chagas. Trata-se de importante passo para a implementação do Projeto IntegraChagas Brasil, que constitui ação estratégica do Ministério da Saúde, sob a coordenação do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal do Ceará.
Porteirinha e Espinosa, que estão na área de atuação da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros, foram incluídos entre os cinco municípios prioritários para a execução do IntegraChagas Brasil. Os demais municípios participantes do projeto são: Iguatracy (Pernambuco), São Luiz de Montes Belos (Goiás) e São Desidério (Bahia).
O projeto tem o objetivo de ampliar o acesso da população à detecção e tratamento da doença de Chagas crônica nos serviços de atenção primária à saúde. No Norte de Minas, os trabalhos foram iniciados em fevereiro deste ano e, para viabilizar a execução das ações, a Fiocruz utilizará em caráter pioneiro o Kit NAT Chagas, teste diagnóstico molecular desenvolvido em 2012, e aprovado no ano passado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A construção da linha de cuidado para a doença de Chagas é uma das estratégias para o alcance de maior acesso da população aos tratamentos, a partir dos serviços de atenção primária. Por meio da qualificação da rede de atenção à saúde, o objetivo do Ministério da Saúde é estabelecer um percurso assistencial padronizado com foco em ações de promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação de pacientes acometidos pela doença de Chagas.
Estima-se que menos de 10% dos casos da doença são diagnosticados em tempo oportuno, e que apenas 1% das pessoas recebem o tratamento adequado. Sem a garantia de acesso à saúde, após várias décadas de infecção, aproximadamente 30% das pessoas desenvolvem problemas cardiológicos e 10% têm distúrbios digestivos, neurológicos ou mistos.
A referência técnica em doença de Chagas na SRS Montes Claros, Nilce Almeida Lima Fagundes, explica que “a linha de cuidado inclui atendimento especializado. Daí a importância do trabalho conjunto do Ministério da Saúde com a SES-MG e municípios. Estamos juntos na implementação do IntegraChagas como colaboradores e apoiadores da iniciativa que traz um novo olhar para a doença”, observou Nilce, durante encontro realizado entre os dias 10 e 12 de julho, em Espinosa.
Na mesma linha de raciocínio, Elisa Vianna, representante da Secretaria de Atenção Primária em Saúde do Ministério da Saúde, destacou a importância de todos os níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS) trabalharem juntos. “Poder acompanhar de perto essa construção em conjunto é muito satisfatório. Poder incluir nessa construção os usuários do SUS mostra o comprometimento do projeto, que deve servir de modelo para outros municípios”, frisou Elsa.
Representando a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Swamy Lima observou que a partir da experiência da construção da linha de cuidado para a doença de Chagas, “o Ministério da Saúde poderá compor o processo de implementação desse modelo para áreas prioritárias em todo o país, incluindo outras enfermidades”.
O secretário de saúde de Espinosa, Paulo Mozart, garantiu que “a partir do que identificamos aqui como necessidade para o atendimento da pessoa com doença de Chagas, vamos buscar pactuar para assegurar o cuidado integral aos pacientes. O desafio é grande, mas estamos comprometidos a mudar essa realidade”.
Durante visita à comunidade rural de Campinhos, que possui quantidade expressiva de pessoas acometidas pela doença de Chagas, o líder comunitário Edvar Pereira, diagnosticado com a doença, destacou que esta é a primeira vez que ele vê um projeto que se inicia ouvindo as pessoas e conhecendo a realidade local. “A gente está acostumado a receber tudo pronto e muitos desses projetos não resolvem muita coisa. Mas esse projeto está sendo construído por nós, a partir da nossa realidade. Acredito que será bom para todos”, pontuou Edvar.
Porteirinha
Em Porteirinha, os trabalhos para a construção da linha de cuidado para a doença de Chagas foram implementados entre os dias 12 e 14 de julho, tendo iniciado com a realização de visita à comunidade rural de Paciência, que também possui quantidade expressiva de pessoas acometidas pela doença.
Clemência Pereira, de 48 anos, que mora em Paciência, contou que seu pai trabalhou na extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), combatendo o barbeiro, transmissor da doença de Chagas. “Em casa sempre convivemos com essa realidade da doença de Chagas. Meu pai acredito que morreu por conta da exposição ao veneno para matar os barbeiros e minha mãe faleceu por causa das complicações da doença. Fico emocionada em saber que esse projeto está chegando, porque hoje a gente não ouve falar da doença, mas o barbeiro está aí, e muitas pessoas podem ter a doença e não sabem”, declarou Clemência.
O secretário de Saúde de Porteirinha, Djalma Antunes Filho, garantiu que o município está comprometido com o controle e tratamento da doença de Chagas a partir da construção da linha de cuidado. “Sabemos que o desafio é grande, porque não temos nenhum modelo para seguir. Por conta disso, seremos o modelo para implementação do projeto no país, o que nos motiva a seguir em frente”, concluiu o secretário.
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