Psicóloga fala sobre as consequências da cultura do cancelamento - Rede Gazeta de Comunicação

PUBLICIDADE

Psicóloga fala sobre as consequências da cultura do cancelamento

JOYCE ALMEIDA

A cultura do cancelamento também conhecida por linchamento virtual é uma prática que cresce constantemente no meio digital. Se trata da ‘punição’ sobre determinado comportamento, posicionamento e ação de uma pessoa. Os usuários das redes sociais transformam esses ambientes em tribunais, onde o indivíduo recebe as opiniões e considerações sobre algo feito por ele, muitas vezes manifestada por discursos de ódio e até mesmo ameaças.

Esses ataques podem impactar diretamente na saúde mental das pessoas que passam por essa situação e a psicóloga Conceição Aparecida, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, esclarece mais sobre o assunto. “A cultura do cancelamento, seja de uma pessoa ou empresa, é a materialização da intolerância. No momento em que se ‘cancela’ algo ou alguém, se tira o direito dessa pessoa se defender ou explicar o que aconteceu, para que mudanças ocorram. É quando a radicalidade entra em cena”.

A especialista destaca o fato de que, com as redes sociais, as informações chegam instantaneamente e de forma global, transformando qualquer indivíduo em alvo dos ataques. “As pessoas e assuntos ficam em evidência e à mercê de todo tipo de julgamento. Forma-se o ‘tribunal da internet’, implacável com quem não segue o politicamente correto na visão de quem julga”.

A psicóloga também elenca os danos que esse comportamento traz nas relações entre as pessoas, principalmente no ambiente virtual. “Os impactos são diversos: discussões agressivas; ofensas nos comentários; do cancelamento inicial podem surgir cancelamentos entre os que cancelam e desse cenário de discussões, pessoas ficam à beira de um ataque de nervos, ansiosas, depressivas e muitas vezes focadas apenas no assunto do cancelamento e esquece do mundo real”, explica.

Outra questão importante é a saúde mental dessas pessoas passivas ao cancelamento. “A saúde mental do ‘cancelado’ precisa ser olhada de perto, sendo acompanhada por um profissional, pois pode alterar o seu sono, alimentação, as suas saídas, o seu trabalho, o seu relacionamento e a sua família. São vários os desdobramentos de um cancelamento que atingem a pessoa de tal maneira que ela pode desenvolver quadros de ansiedade exagerada, ataques de pânico, insônia, perda do apetite, depressão, autoestima baixa, insegurança”, pontua.

Além de quem sofre, o agressor também precisa ser analisado com cuidado, pois muitas vezes o seu comportamento pode ser o reflexo de experiências sofridas anteriormente. “Pode ser que o ‘cancelador’ já tenha vivenciado, em algum momento da vida, alguma experiência de rejeição, preconceito ou agressividade, como também ter uma visão radical sobre assuntos do cotidiano da vida e usá-la como parâmetro em sua régua de valores. Acaba que ele não exercita a empatia, mesmo para dar ao cancelado o direito de olhar para a situação e aprender com o seu ‘erro’”. A psicóloga explica ainda que o comportamento do cancelado reflete a cultura dos tempos atuais. “O imediatismo e a intolerância muitas vezes não dão a chance ao outro de ressignificar as suas falas e atos para assim evoluir. Lembrando que a humanidade está em constante mudança, então falas e comportamentos antes normalizados, muitos hoje não são mais aceitos. Mas, o melhor caminho, sempre será o diálogo, a educação, a conscientização, a sensibilização. Há muito para evoluímos em diversos temas na nossa sociedade”, finaliza a especialista. (Sob supervisão de Stênio Aguiar)