A fuga da guerra na busca cidadã - Rede Gazeta de Comunicação

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A fuga da guerra na busca cidadã

BEATRIZ BRANDÃO

Pós-doutoranda da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP

O fluxo de imigrantes forçados na guerra atual, o congolês Moïse e sua família, assim como os Talibés na África, são considerados corpos-fronteiras, questionados por carregarem neles mesmos narrativas de tensão geopolíticas. São corporalidades que representam o conflito, antes mesmo do reconhecimento da vida. Não são somente os sujeitos que se deslocaram, deslocam-se os lugares com eles. A exclusão do corpo estrangeiro remete ao que a filósofa Hannah Arendt já nos dizia: a política da raça é a política da morte, amparada por um nacionalismo no argumento de proteção aos corpos.

Esses fatos nos colocam em evidência apenas os vínculos frágeis que temos em nossa sociabilidade com imigrantes, nos possibilita pensar sobre corpos-fronteira, vidas matáveis e também nas vidas choráveis, aquelas em que seu abandono são – ou não – causas de comoção. A filósofa Judith Butler nos escreve sobre as vidas “dignas” de ser choradas ao se questionar, “de quem são as vidas consideradas choráveis em nosso mundo público?”.

O que o choro, gerado pela revolta da violenta partida de Moïse Kabagambe ou os inúmeros ucranianos que cruzam seu território, revela sobre de que modo como nos relacionamos com essas vidas? Como disse o escritor afegão Atiq Rahimi, “o exílio não se escreve, ele se vive”. A família congolesa decidiu viver essa retirada, buscando amparo ao se exilar, encontrando o fim do exílio no próprio exílio. Cabe-nos questionar quem são os estabelecidos e os outsiders nos discursos de resistência.