O Cerrado, segundo o relatório anual do MapBiomas, perdeu quase 700 mil hectares de floresta nativa em 2022
Embora a Amazônia frequentemente receba a maior parte da atenção em questões de desmatamento, outro bioma brasileiro enfrenta uma crise igualmente grave. O Cerrado, segundo o relatório anual do MapBiomas, perdeu quase 700 mil hectares de floresta nativa em 2022, o que representa um aumento de 31% em relação ao ano anterior e faz com que a área desmatada seja 20 vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte.
O cenário no Cerrado é alarmante, com um desmatamento que se destaca proporcionalmente entre os seis biomas brasileiros. No município de Pompéu, em Minas Gerais, imagens de satélite revelam que uma área de quase 17 hectares foi desmatada recentemente. Em algumas regiões, as derrubadas chegaram a áreas de preservação permanente, próximas às margens de rios.
Aumento Proporcional do Desmatamento
O aumento no desmatamento do Cerrado é o mais expressivo registrado entre os biomas brasileiros. Segundo Rodrigo Hermes, chefe do Ibama em Uberlândia, a instituição utiliza tecnologia avançada para monitorar e responder a alertas de desmatamento. “Quando detectamos um desmatamento, geramos um alerta automático. A partir daí, fazemos a fiscalização e cruzamos os dados para confirmar a irregularidade”, explica Hermes.
No Cerrado, a legislação permite que propriedades privadas mantenham até 35% de reserva legal, em contraste com a Amazônia, onde a exigência é de 80%. Essa diferença, junto com a ausência de um plano específico de controle de desmatamento, contribui para o avanço da devastação.
Críticas e Desafios
Edegar de Oliveira, diretor da WWF Brasil, critica a legislação mais flexível e a falta de medidas de controle rigorosas. “O Cerrado foi o grande espaço para o crescimento do agronegócio, que avançou sobre áreas de vegetação nativa. Precisamos urgentemente de ações efetivas para reduzir o desmatamento, assim como foi feito com sucesso na Amazônia”, afirma Oliveira.
Com apenas 8% do Cerrado protegido em unidades de conservação, o professor de ecologia Geraldo Wilson Fernandes ressalta a importância de preservar o bioma. “O Cerrado é vital para a produção de água e ar puro no país. Sua degradação compromete a qualidade de vida e a biodiversidade local”, destaca Fernandes.
Importância do Cerrado
O Cerrado abrange cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados no Brasil, Paraguai e Bolívia, e desempenha um papel crucial no abastecimento de oito das doze principais bacias hidrográficas do Brasil. O bioma é fundamental para a manutenção do equilíbrio hidrológico e fornece serviços ecossistêmicos essenciais, como a recarga de aquíferos e a provisão de água para o centro-sul do Brasil e países vizinhos.
A especialista Leide Takahashi enfatiza a riqueza de biodiversidade do Cerrado, que inclui mais de 800 espécies de aves, 1.200 espécies de peixes e mais de 7 mil espécies de plantas, muitas das quais são endêmicas. “O Cerrado é considerado a caixa d’água do continente, e sua destruição representa uma ameaça significativa para a biodiversidade e os recursos hídricos da América do Sul”, afirma Takahashi.
Reflexão e Ação
O Dia do Cerrado, comemorado em 11 de setembro, é um momento para refletir sobre o impacto das ações humanas e a necessidade urgente de preservação. “Esta data é uma oportunidade para conscientizar sobre a importância do Cerrado e adotar medidas para garantir um planeta saudável para as futuras gerações”, conclui Vininha F. Carvalho, ambientalista e editora da Revista Ecotour News & Negócios.
Com a chegada da temporada de seca, a preocupação com os incêndios e o agravamento da degradação ambiental no Cerrado só aumentam. É imperativo que a sociedade e as autoridades se unam para implementar estratégias eficazes de conservação e enfrentar esse desafio crítico.
